Diagnóstico da Cultura em Ilhabela segundo nossos agentes culturais

Diagnóstico segundo nossos Agentes Culturais
(os números correspondem às observações feitas pelos presentes no II Fórum de Políticas Culturais, cf constam em publicação anterior )
Instalações
Embora a comunidade tenha citado a existência das várias instalações culturais, públicas ou ONGs como um ponto forte da cultura em nossa cidade(1.24), se ressente por vários destes espaços, e especialmente as bibliotecas, funcionarem regularmente apenas durante a semana, e só abrirem nos finais de semana com eventos programados (1.1).
Nossos agentes culturais apontaram também a inexistência de instalações específicas - Centro Cultural Caiçara (7.1), Museu Histórico Municipal (3.1), Cinema (1.2) como um fator que enfraquece a nossa cultura.
Os artesãos afirmam que faltam espaços para exposição e comercialização de seus produtos (2.1); e os responsáveis pelo nosso Carnaval tem dificuldade em arranjar espaços com infraestrutura para produção e locais para armazenamento e reciclagem (4.1 – 4.4).
Registro, Capacitação e Formação Cultural
Por sermos foco de fluxo migratório, vivenciamos uma diversidade de culturas (5.15), além da caiçara local. Esta riqueza se reflete na culinária, nos vocábulos, nas nossas histórias (5.13 – 5.14 ). Mas também somos alvo da cultura de massa (1.39), muitas vezes barulhenta e inadequada (5.25 – 5.27), que ameaça a preservação de nossa memória e de nossas tradições, especialmente entre os jovens(7.2 - 7.13 – 6.1). Os trabalhos realizados durante o II Fórum apontaram a importância de valorizar nossa cultura popular, preservar nossa memória e garantir nossa identidade, através de variadas ações de registro, capacitação e formação cultural(6.11 – 6.12 – 6.13).
Temos tido a oportunidade de receber cursos periódicos a respeito do patrimônio histórico e arqueológico da Ilha e região, formando pessoas capacitadas e multiplicadoras deste conhecimento (3.14 – 3.16). Pesquisas estão sendo atualmente realizadas, ampliando nosso acervo (3. 15 ).  Falta ainda uma ação conjunta com a Secretaria de Educação para uma programação mais constante e continuada na grade curricular que contemple a formação de cidadãos conscientes de seu patrimônio, sua história, tradições e cultura(3.5 – 3.6 – 5.3)
Este diálogo com a Educação é importante especialmente com relação às comunidades isoladas. Os conteúdos que são normalmente trabalhados na escola podem interferir na preservação de suas tradições(7.24), assim como considerar cultura e identidade conceitos fechados é prejudicial a formação destes nossos jovens(1.25).
A construção de nossa identidade cultural passa também pela construção e expressão simbólica de nossa realidade atual. Neste ponto, considera-se a força do comércio e da televisão(1.41), o modismo e o comodismo(1.42 – 1.40), como grandes ameaças. Um fator que nos fortalece é a preocupação especial com o desenvolvimento artístico de crianças e adolescentes, para os quais são oferecidas diversas oficinas – dança, teatro, música, artes plásticas, artesanato, etc.(1.25 – 1.26).  Mas estas oficinas visam à inclusão cultural e não uma formação graduada.  Não existem cursos regulares e reconhecidos de formação profissional (1.10) – apenas algumas iniciativas esporádicas de parcerias com SEBRAE, USP, etc. Embora muitos artistas competentes residam em nossa cidade(1.27), faltam ainda profissionais melhor capacitados nas diversas áreas(1.8 – 5.1)
No setor de artesanato, além da arte caiçara, inúmeras linguagens representam os trabalhos de nossos artesãos.  Contamos com matérias primas naturais que enriquecem seus trabalhos(2.12). Mas é necessário aprimorar a qualidade dos produtos (2.3) para desenvolvê-los com mais identidade e viabilidade econômica. Cursos específicos para técnicas em cada linguagem, e oficinas de capacitação gerencial(2.22) e gestão cultural(2.2) são requeridos para auxiliar o setor.
Esta é uma demanda também dos nossos carnavalescos, que embora promovam a aproximação do povo com a arte (4.28), a integração da comunidade com a cultura(4.23 – 4.25) se percebem isolados dos demais setores culturais(4.6) e almejam capacitação(4.5) para um carnaval com enredos mais fortes(4.7)  e uma produção artística de mais qualidade (4.5), com foco também na reciclagem(4.24) e na formação musical(4.27). É importante que a identidade do nosso Carnaval seja firmada(4.8), pois os eventos de outras cidades acaba gerando uma visão massificada(4.39) que ameaça esta formação.
Financiamento
A Prefeitura, através da Fundaci e da Secretaria de Cultura, promove as principais ações culturais da cidade. Outras iniciativas importantes são os eventos promovidos pela Secretaria de Turismo, com verbas públicas e privadas. Mas outros departamentos da governança local também investem em eventos culturais, como os shows ligados a Festas Religiosas ou o Carnaval(6.21).
Contamos ainda com investimentos privados especialmente em programações como a Semana da Vela em julho. Por fim, a cidade possui um terceiro setor forte, que através da conquista de editais públicos ou investimentos privados, tem desenvolvido um trabalho bastante significativo(1.28).
O fato de Ilhabela ter sido indicada como Cidade Indutora de Turismo(2.23), também representa uma oportunidade no sentido de captar recursos ou promover eventos para o desenvolvimento do nosso Turismo Cultural.

Mesmo assim, de modo geral todos os setores da cultura local apontaram falta de verbas, inclusive para pesquisas e datações arqueológicas(3.7 – 3.8). O Setor acredita na possibilidade de captação de recursos externos(3.24), estabelecendo parcerias diversas para o fomento das pesquisas, revitalização e valorização do nosso patrimônio(3.25 – 3.26).
Os artistas locais também tem dificuldades em encontrar meios de viabilizar suas produções(1.11). Reconhecem a possibilidade cada vez maior de captar recursos para seus projetos(1.53), através de benefícios culturais como o ProAC e FUNARTE(1.56), e da possibilidade de abertura de mais editais ou ampliação dos já existentes(1.53), mas ainda se sentem pouco a vontade nesta área. Veem nos cursos de capacitação para elaboração de projetos oferecidos pelo estado uma possível oportunidade de aprimoramento(1.54). Embora existam bons exemplos de captação de recursos na cidade, dos quais foram citados um festival de dança e dois pontos de cultura(1.28) eles funcionam de forma isolada e pontual.  Sendo assim, os artistas acabam competindo entre si na conquista das poucas oportunidades de trabalho que acontecem na maioria durante a alta temporada(1.9).
Também entre os artesãos não há uma cooperativa de vendas(2.4), embora existam duas associações de classe na cidade(2.11) e cerca de 300 artesãos cadastrados na SUTACO(2.10).   
Entre os caiçaras a dificuldade na própria subsistência e o modo de vida nas comunidades, que é tão diferente da cidade(7.4), agrava ainda mais o problema e exige atenção especial. As artes caiçaras, música, danças, teatro, arquitetura, histórias e artesanato são um ponto forte de nossa cultura(7.19) e passíveis de receber incentivos públicos, através de editais estatais e federais(7.32).
Políticas Públicas
Em Ilhabela observa-se um encontro de culturas formado por anos de intensa ocupação Por ser esta mistura de povos, é necessário que se garanta a expressão cultural múltipla de sua gente, e prioritário que se preserve a cultura caiçara local.
Mas o preconceito e a segregação enfraquecem nossa cultura (5.5). Não há eventos adequados a nossa Diversidade Cultural, nem uma legislação que a favoreça (5.6 – 5.7).
O contínuo esmorecimento das Tradições e Saberes Caiçaras (7.12)  deve-se também a uma série de outros fatores. Pode-se destacar entre estes: a própria configuração geográfica (uma longa e estreita faixa de terra onde as comunidades estão dispersas) (7.5); a crescente perda de espaço e moradia de uma comunidade que ignora pressupostos legais (7.7); e as mudanças no modo de vida e valores dos caiçaras que acabam cedendo às influências da vida moderna (7.13). Não há, na visão dos participantes da II Conferência, uma política eficiente de preservação e valorização inclusive para tornar esta cultura um atrativo turístico(7.9). A própria estátua na entrada da cidade foi citada por não caracterizar a cultura caiçara(3.13).
Apesar de sermos uma cidade turística devido especialmente aos nossos atrativos naturais, pouco se faz no sentido de aproximarmos nossa cultura à paisagem natural, e ao fato de convivermos ao lado de um Parque Estadual (5.4). Não há uma articulação significativa e constante entre a Secretaria de Cultura com Turismo Meio Ambiente e Educação, apenas iniciativas esporádicas (1.14 – 7.9 – 4.9).
Não se percebe uma ação eficiente no sentido de preservar e promover nosso patrimônio histórico e arqueológico. Não há divulgação ampla e adequada, faltando até sinalização dos mesmos em alguns casos(3.12 – 3.4). Os participantes de nossos encontros consideram a descaracterização do nosso Centro Histórico(5.24) uma forte ameaça a nossa cultura.
No campo das artes, embora as várias linguagens artísticas sejam oferecidas à comunidade (especialmente crianças e jovens) através das Oficinas Culturais, algumas atividades reclamam apoio, especialmente literatura(1.16), cinema, fotografia e vídeo (1.15)
Os artistas se sentem desvalorizados devido à baixa remuneração, instabilidade e ausência de programas de formação que atinjam desde iniciantes até especialistas (1.5). Faltam iniciativas para descobertas de novos talentos (1.13), eventos culturais significativos que promovam intercâmbios regionais, nacionais e internacionais (1.17). Não existem corpos estáveis nas áreas de dança e teatro (1.6). É grande a dificuldade de financiamento para as produções artísticas locais (1.11)
Em contraposição, vários setores apontaram uma discrepância de investimento comparando as contratações de grandes produções de artistas populares, com os valores que são disponibilizados para a arte e cultura local. Apesar de serem custeados por vários setores da prefeitura, e não apenas pela Cultura, estes eventos foram criticados também por misturarem outras culturas (como pagode e sertanejo) nas festas religiosas e tradicionais (6.6 – 6.7 – 6.8 – 1.44 – 7.11).
Para os carnavalescos, a força do Carnaval na Ilha depende de uma visão política que garanta a sua continuidade através de leis específicas (4.12 – 4.13 – 4.14).
Os artesãos sentem que a relação com o poder público é fraca (2.7). Falta fiscalização (2.5), é constante a invasão nas temporadas, dos produtos “made in china” e do industrianato (2.19 – 2.20). Acreditam que poderia haver mais diálogo com outros segmentos do município, especialmente o Turismo (2.6).
Enfim, a própria formação do Conselho de Cultura e a criação do Plano Municipal de Cultura, acenando para uma gestão mais participativa foi assinalada como um ponto forte(1.29), assim como a presença de várias instituições, como a Secretaria da Cultura, Fundaci, SUTACO, SEBRAE, a ONG Espaço Cultural Pés no Chão(2.16).
Eventos
Vários eventos culturais acontecem na Ilhabela, dentro da agenda anual da Prefeitura ou esporadicamente, promovidos pelo poder público municipal e estadual, por iniciativas particulares e pelo terceiro setor. O Aniversário da Cidade(1.34) e o Festival Dança e Movimento(1.33) foram citados como pontos fortes de nosso calendário cultural.
Ainda, a cidade promove vários eventos ligados à cultura caiçara, como as festas religiosas(7.20), entre as quais se destaca a  Congada de São Benedito(7.21 – 1.35), e demais eventos da Semana de Cultura Caiçara(7.22), a Festa de São Pedro com a Procissão de Barcos(6.15) e a Festa de Nossa Senhora D´Ajuda(6.14) . Exposições periódicas sobre nosso patrimônio(3.19) também fortalecem nossa cultura.
Mas alguns eventos foram considerados inadequados, como os shows promovidos em festas religiosas, que são caros(6.7) e não contemplam a diversidade cultural, apenas o que já transborda na mídia(6.8). Os agentes culturais que participaram dos encontros também consideraram exagerada a verba direcionada a shows evangélicos(6.6).
Atualmente há uma pequena oferta de opções culturais nos finais de semana(1.20), com uma divulgação que não é eficiente(1.21 – 6.9 – 6.10). O artista local reclama mais participação em eventos como a Semana da Vela(1.22).
Acredita-se que a produção de eventos como Mostras e Festivais possa atrair turistas na baixa temporada atenuando os efeitos da sazonalidade(1.19).
O Carnaval promove alegria e encantamento(4.30 – 4.35) e aponta a possibilidade do Produto Carnaval, com a criação de eventos paralelos como espetáculos com as Entidades(4.29).  Os carnavalescos consideram um milagre o que conseguem fazer com os recursos que recebem(4.34 – 4.22) e a beleza plástica das escolas(4.33) . Percebem como ponto forte a riqueza das fantasias(4.36) , os sambas (4.32) e a bateria que envolve a todos neste dia(4.37). Mas aponta para uma divulgação insatisfatória(4.16), falta de clareza nos objetivos do Carnaval(4.17), e problemas de logística e organização(4.18). Acha que ainda não alcançou a qualidade pretendida(4.20 – 4.21), e considera que a falta de adiantamento de parte da verba para o início dos trabalhos(4.19) compromete esta qualidade.
O setor de artesanato assinala que vivencia boas oportunidades com a aproximação da Copa do Mundo(2.24), os Cruzeiros(2.26), a criação de um Projeto Turístico Regional(2.28), a Ilha ser considerada a Capital Nacional da Vela(2.27), além da Temporada Turística Anual(2.25) no verão e meses adjacentes. Acredita que poderia haver mais intercâmbios, através da criação de eventos específicos (feiras)(2.9).

Os agentes ligados a Diversidade Cultural apontam a falta de eventos adequados ao diálogo entre as diversas culturas(5.11). Reconhecem que pessoas altamente qualificadas vem morar na Ilha(5.19) e que a influência externa pode melhorar a cultura local(5.20), por isso sugerem a realização de eventos multiculturais(5.36), que reúnam  a grande diversidade cultural existente(5.18), a riqueza culinária(5.21), etc.

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